O Povoado de Porto das Caixas surgiu a partir da igreja de N. Sra. da Conceição, que foi erguida por iniciativa de D. Francisco de São Jerônimo, bispo do Rio de Janeiro. O pequeno povoado tinha, na época, intensa atividade comercial, abrigando em seu porto frotas inteiras de faluas e balsas, para o transporte de caixas de açúcar, sacas de cereais e produtos em gerais.
Era um lugarejo próspero e um dos maiores entrepostos comerciais entre a região serrana e o recôncavo da baia de Guanabara, através do controle de navegação de faluas pelos Rios Macacu e Aldeia.
Só que no século XIX, a partir de 1829, com uma eclosão de epidemias de malária e impaludismo, bem como a cólera em 1855, a Vila de Santo Antônio de Sá e a freguesia de Porto das Caixas iniciaram seu processo de decadência. Todos temiam as célebres “febres de Macacu”
Nos primeiros anos do século XX, o município de Itaboraí passa por grandes dificuldades econômicas e Porto das Caixas quase que desaparece sobre seus escombros, fazendo, com isso, a memória do povoado se esvair.
E igualmente a “Fênix”, Porto das Caixas começa a ressurgir das suas próprias cinzas a partir da terceira metade do século XX.
Nesta época, o atual presidente da república, Getúlio Vargas, determina a criação da comissão de saneamento da baixada. Tal projeto foi desenvolvido ao longo de duas décadas (1933 – 1953) favorecendo assim a reabilitação de terras para o cultivo, este era voltado à policultura de base familiar, em pequenas propriedades rurais.
Outro fator que ajudou a refazer a população do lugar foi a construção da usina de destilação de álcool de anidrido de mandioca. A construção da usina traria vida própria e duradoura ao velho Porto das Caixas, fazendo que o simplório lugarejo ganhasse um pouco mais de alento. Contudo, a usina nunca chegou a funcionar.
Com o término da Segunda Guerra Mundial, a citricultura (cultivo de laranjas) ao lado da manufatura de cerâmicas começaram a se transformar na principal atividade econômica do município de Itaboraí. Em Porto das Caixas, sobre reflexo de todos esses acontecimentos, a população se renova, um novo bairro começa a surgir, sobre os escombros do passado e, com ele, problemas relativos ao progresso. Essa renovação, importante para a economia local, fortalece ainda mais a dispersão da memória da cultura local.
Na década de 1950, um pouco mais organizada, a comunidade começa a buscar uma vida social menos monótona. Toda a vida social limitava-se a Igreja Nossa Senhora da Conceição e sua Irmandade. Alguns portuenses e radicados daquela época, percebendo a falta de movimentação cultural da localidade, organizaram-se e fundaram a Sociedade Musical Lira Portuense Santa Cecília, em 12 de janeiro de 1953. Eles tinham o objetivo de desenvolver uma atividade musical em conjunto que representasse a localidade, eis que surgiu a “Banda”, esta teve a sua primeira aula ministrada sob a luz de um lampião. Seus dirigentes, eleitos pela comunidade, construíram sua sede em 1962, numa espécie de mutirão, os que tinham um poder aquisitivo maior contribuíam com dinheiro ou materiais de construção, a outra parte da população dava sua contribuição com a mão de obra.
A participação cultural da Sociedade Musical Lira Portuense Santa Cecília não se limitou a entretenimento para a comunidade, ao longo dos seus 35 anos de existência, atuou rigorosamente na formação de músicos, proporcionando renda mensal aos mesmos e os encaminhou para bandas e orquestra de várias instituições: Forças Armadas, Polícia Militar do Rio de Janeiro e Orquestra Sinfônica Brasileira. Alegrou com retretas comemorações e eventos deste e de outros municípios, participou do filme “O crime do Zé Bigorna”, do Programa os Trapalhões, no Programa a Lira do Xapecó na Rádio Nacional e da Novela Estúpido Cupido da Tv Globo. Desse lampejo de objetividade musical e amor à cultura, surgiu a entidade que tem sua história formada por um grupo de músicos com gloriosa passagem marcadora de uma época, e ao mesmo tempo, responsáveis por integrar a comunidade levando-a aos caminhos da cultura.
No inicio da década de 60, com a ditadura aterrorizando o país, Itaboraí e a citricultura entram em decadência. Em Porto das Caixas, no ano de 1968, o mesmo ano da outorgação do AI-5, a imagem de Jesus Crucificado verte sangue pelas chagas. O Brasil vive “o milagre econômico” e Porto das Caixas vive “o milagre divino”. A Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi palco de inúmeras romarias de vários estados brasileiros, a fila para visitação à imagem de Jesus Crucificado atingia quilômetros de distância, houve uma explosão de turismo e mudança na economia local, o distrito recebe novos moradores, ocasionando o aumento da população. Entretanto, apesar de estimular um comércio informal e sustentar as obras da Igreja, o movimento turístico contribui para a degradação do meio urbano e do patrimônio histórico.
Durante a década de 1970/ 80, toda a atividade sócio-cultural da comunidade e de bairros vizinhos giravam em torno da Igreja Nossa Senhora da Conceição e da Sociedade Musical Lira Portuense Santa Cecília. Os moradores ganhavam dinheiro vendendo utensílios religiosos durante todo o dia, numa lida que muitas vezes ultrapassava às 15h de trabalho e longas caminhadas. À noite, então, se integravam e se divertiam na “Sede” ou “Clube” como era e é conhecida a Sociedade Musical Lira Portuense Santa Cecília.
A comunidade sonhava com o bairro transformado numa Aparecida do Norte, só que não houve interesse e investimentos das autoridades municipais. Não foi criada nenhuma estrutura para aproveitar esse turismo religioso. Sem os estímulos dos governantes locais e com a impressa especulando sobre a veracidade do fenômeno, aos poucos o movimento de turistas começou a diminuir.
Desta forma, com o fim da ditadura, o movimento de visitação ao Cristo Crucificado diminuiu assustadoramente. A vida econômica do bairro mudou muito, eram poucas oportunidades de trabalho e com a queda do movimento das romarias, a população se degradou e por ironia do destino a Sociedade Musical Lira Portuense Santa Cecília por falta de recursos, em meados da década de 1990, teve sua participação muito limitada na vida sócio-cultural da comunidade.
1 comentários:
muito triste o desfecho da história de porto das caixas,são fragmentos de lembranças de um tempo glorioso da cidade,pois quando visitei-a eu era de colo creio que foi em 1974,o interessante é que não sei como me recordo de certos lugares pois eu só tinha 11 meses de idade!
pretendo ir visitar o local um dia!
atualmente sou Cristão
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